NA GUERRA CAMBIAL, EFEITO COLATERAL É A INFLAÇÃO (ANÁLISIS)

24 enero 2011

Fuente: Tomado de la Selección de Noticias del MRE de Brasil/Valor Económico

Brasilia, 24 de janeiro- A tentativa de impedir uma apreciação da moeda local frente ao dólar em diversas economias emergentes ampliou o uso de instrumentos não convencionais por parte dos bancos centrais, como forma de controlar a inflação sem ampliar o diferencial de juros com o resto do mundo. O uso de medida chamadas prudenciais, no entanto, ainda levanta dúvidas nos analistas.

Para os economistas Guillermo Mondino e Marcelo Salomon, do Barclays Capital, os bancos centrais em diversos mercados emergentes, incluindo o Brasil, estão tomando suas decisões de política monetária em parte orientados pela necessidade de evitar uma piora no cenário cambial. Tentar controlar câmbio e inflação ao mesmo tempo, no entanto, pode ser uma tarefa difícil, avaliam, com efeitos na ancoragem das expectativas inflacionárias.

O BC brasileiro sancionou as expectativas do mercado elevando a Selic em 50 pontos base na semana passada, para 11,25% ao ano, mas sinalizou que parte do trabalho de controle da inflação será feito pelas medidas prudenciais. "A incerteza quanto ao grau de substituição entre as medidas macroprudenciais e a taxa de juros, juntamente com a percepção de que o Banco Central se sente constrangido em elevar o suficiente a Selic pode, na verdade, alimentar negativamente a ancoragem das expectativas", afirmam os especialistas do Barclays, em relatório.

O BC brasileiro passou a atuar de forma mais intensa no mercado cambial, ao retomar o leilão de swap cambial reverso. Ao mesmo tempo, alterou a política adotada no ano passado de compras de divisas no mercado à vista acima do fluxo e passou a adquirir um volume menor de moedas estrangeiras do que entra de fato. Se por um lado as medidas se mostram eficientes para conter a apreciação do real, o efeito colateral na inflação começa a se materializar.

Como lembrou Tony Volpon, chefe da área de pesquisas de mercados emergentes da Nomura Securities, em recente artigo publicado no Valor, olhar somente para a mudança da moeda em termos nominais não é suficiente. Segundo ele, um país pode tentar impedir a apreciação da sua moeda, mas se isso resultar em forte aumento na inflação local, a moeda vai se valorizar em termos reais de qualquer maneira, prejudicando a competitividade.