RELATÓRIO APONTA FRACASSO DO FMI AO ANALISAR SITUAÇÃO DA ECONOMIA MUNDIAL

10 febrero 2011

Fuente: Tomado de la Selección de Noticias del MRE de Brasil/O Globo

Río, 10 de fevereiro- O Fundo Monetário Internacional (FMI) fracassou redondamente ao se mostrar incapaz de perceber que o mundo caminhava para a crise financeira que se agravpu em meados de 2007, devido a má regulação e abusos cometidos nos Estados Unidos e outros países avançados. O Fundo chegou a emitir sinais contrários afirmando em julho daquele ano que "a expansão global permanecerá vigorosa" e revisando, para melhor, as perspectivas de crescimento: "As perspectivas hoje são as melhores em muitos anos". Ao mesmo tempo em que louvava a economia dos países ricos, o Fundo chamava a atenção para "crescente vulnerabilidades em alguns mercados emergentes". Na prática o resultado foi totalmente inverso.

O fiasco do FMI está registrado no mais recente informe do Escritório de Avaliação Independente (IEO, na sigla em inglês), que é uma agência interna do próprio Fundo encarregada de monitorar tanto as suas políticas quanto as suas atividades. O estudo, divulgado em Washington, demonstra de forma arrasadora os equívocos do FMI -numa análise que abrangeu o período de 2004 a 2007.

Pela primeira vez o IEO ressalta que pressões políticas, exercidas pelos países avançados, têm contribuído para erros tão graves quanto o da percepção de que a crise ia estourar. De acordo com o trabalho, que além do exame de documentação levou em conta pesquisa interna feita com economistas do FMI, as pressões políticas incluem pedidos (à sua direção) para a alteração de textos nos informes dos técnicos sobre determinados países; e exigências de autoridades de alguns países para que determinados economistas -encarregados de monitorar a economia daquelas nações- fossem substituídos.

Tais intimidações, segundo o IEO, também têm feito com que alguns economistas do Fundo pratiquem a autocensura, limitando-se a relatar em seus informes aquilo que os governos dos países avançados gostariam, camuflando a realidade. "Vários membros sêniores da equipe de economistas sentiram que expressar fortes opiniões contrárias poderia acabar com a carreira deles. Dessa forma, as opiniões tendiam a gravitar em direção ao centro" - diz um trecho do informe.

Segundo o IEO a capacidade do FMI em identificar os crescentes riscos, que levaram à crise de 2007, foi atrapalhada por vários fatores -como a tendência a se conformar com uma determinada opinião sem checar os fatos, e a propensão geral de que era improvável haver uma crise financeira nas economias avançadas. "Frágil controle interno e uma cultura institucional que desencoraja opiniões contrárias também tiveram um papel importante"- diz o estudo.

Ele sugere várias e profundas mudanças na cultura e na estrutura do FMI - começando pelo estabelecimento de responsabilidades específicas de sua cúpula, do seu conselho de direção e dos seus economistas. Isso porque, quando surgem as falhas, nenhum desses setores assume seus equívocos. "Os problemas descobertos por essa avaliação vêm de longa data" - concluiu o IEO.

Apresentado oficialmente no último dia 26 de janeiro à direção do FMI, a avaliação -que agora é divulgada ao público- foi acatada pelo diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn. "Temos que pensar em fazer mais" -disse ele, em nota oficial, acrescentando que as reformas "vão melhorar a franqueza e a força de tração do monitoramento" que é feito da economia dos países.

-Temos de considerar cuidadosamente a idéia de permitir a participação direta de eminentes especialistas de fora (do FMI) na nossa monitoração sistêmica. Isso tornaria disponível para o conselho de direção criticas independentes e em tempo real sobre as posições de nossa equipe e dos países- disse ele.