OPEP PODE NEUTRALIZAR INSTABILIDADE NA LÍBIA

24 febrero 2011

Fuente: Publicado por Diario Expresso, Portugal

Londres, 24 de fevereiro- Os futuros do barril de Brent atingem já mais de 111 dólares. So hoje subiram 5%. Isto significa que a pressão imediata sobre o preço do barril de petróleo (negociado em Londres, hoje o mercado mais influente) é enorme. Vários analistas atribuem este stresse ao prémio de risco geopolítico em virtude do dominó de levantamentos populares árabes, e em particular aos acontecimentos mais recentes na Líbia, que detém 2,4% da produção mundial e 3,7% da exportação mundial.

No entanto, Mamdouh Salameh, especialista internacional em petróleos e consultor do Banco Mundial e da UNIDO, relativiza este stresse derivado das revoltas populares que atingiram, por ora, com mais impacto a Tunísia (a "Revolução de Jasmim" serviu como detonador), Egito (importante em virtude do canal do Suez e do oleoduto SUMED), Bahrein (crítico em virtude da posição estratégica no Golfo Pérsico e de ser o poiso da base naval americana da 5ª Armada em Juffair), Iémene, e nos últimos dias, com grande violência repressiva, na Líbia (finalmente, um exportador com significado na região).

A OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), liderada pela Arábia Saudita, tem um milhão de barris diários de capacidade não utilizada, diz Salameh. A Arábia Saudita realizou, esta semana, uma reunião informal que reuniu membros de 100 países, incluindo todos os membros da OPEP (Angola, Argélia, Líbia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irão, Iraque, Koweit, Qatar, Venezuela e Equador).

P: Os levantamentos populares ainda não tinham chegado aos produtores de petróleo com significado. Finalmente atingiram a Líbia cujas exportações de petróleo têm significado para a Itália (40%) e também para a Grécia, Espanha e Portugal. O dominó árabe vai finalmente começar a ter impacto sério no mercado do petróleo?

R: Teve um impacto já no preço do barril. Este aumento deriva da perceção no mercado global do petróleo de que a produção e a exportação da Líbia podem chegar a uma paragem. Contudo, as exportações líbias podem ser substituídas pela OPEP no curto prazo até que a situação volte ao normal. Seja qual for o regime, a Líbia regressará à produção e à exportação de petróleo.

P: E no mercado do gás, qual o impacto na Europa, em virtude da particular ligação a Itália e em volume mais reduzido a Espanha?

R: Pode gerar uma boa oportunidade para a Rússia.

P: Os levantamentos populares a que estamos a assistir podem estender-se a toda a região, ou o dominó para?

R: Na minha opinião, não julgo que os levantamentos do Magrebe possam afetar os produtores de petróleo do Golfo ou outros países na região, como a Jordânia e a Síria.

P: Podemos esperar este ano uma escalada de preços como em 2008? Estamos à beira de um novo choque petrolífero?

R: Mesmo sem o levantamento na Líbia, eu já projetava para este ano uma alta de preços do barril até 120 a 130 dólares, em virtude da muito estreita capacidade não utilizada na OPEP e também por causa da forte procura global de petróleo. No entanto, eu tenho apontado para um severo problema por volta de 2015, com os preços do petróleo ao nível ou superiores aos máximos de 147 dólares por barril de 2008. A OPEP tem 1 milhão de barris diários de capacidade por utilizar. Por um breve período pode substituir, por exemplo, a falha da Líbia (que exporta 1,17 milhões de barris por dia), mas no longo prazo não pode "conter" o aumento do preço do petróleo pois aquela folga é pequena.